Despois da terapia a minha cabeça
em modo automático começa a fazer o analise e diagnostico de todo o dano
causado, pela ligação e entrelace de toda informação vivenciada dado que não
existe espaço temporal no nosso subconsciente…para ele só existe um tempo
gramatical que é o aqui e agora…e a medida que nos vamos aproximando do núcleo
da dor e vamos tirando as pedras que inconscientemente carregávamos liberando
conscientemente todos os nossos demónios fico abismada com o meu caminho de
automutilação e todos os sentimentos novos que tive de digerir quando
experimentei o extasse de novas culturas. A Venezuela sem duvida era um pais
pobre com um alto grão de delinquência mas era rico em sentimentos, era
daqueles países que se caísses na rua ate um mendigo vinha-te prestar auxilio,
pode ser pobre mas a riqueza em valores e calor humano sem duvida arrebentava
com a escala a nível mundial, a realidade é que para muitos deles “o amanha”
poderia não acontecer o que facilita o teu bem estar do aqui e agora, as
pessoas disfrutavam cada milésimo de segundo porque o futuro parecia ser
incerto e em vez de disparar palavras de ódio faziam aquilo que faz a alma
vibrar que é distribuir amor. A realidade também é que pode estar a ser romantizada
afinal falamos das crenças e vivencias de uma menina de 14 anos, porem
sentimentos hipócritas e interesseiros nunca fizeram parte do meu cardápio e o
pior de todo quando esse sentimento vem do nosso seio sanguíneo.
De certeza que desde cedo já
vivenciei situações destas porem a minha mente só agora e a medida que vou
refletindo perante tais atos é que vou descobrindo o sentimento por trás da
ação, não é a toa que nos dias de hoje não gosto ou não sou apologista em forçar
as crianças a cumprimentar, se uma criança quer cumprimentar cumprimenta e se
não quer pois esta tudo bem nisso, o facto de estarmos a forçar estão a incutir
hipocrisia nessa criança de “ok a gente sabe que não gosta mas das 2 beijinhos
a mesma” e para mim isso sempre foi um sentimento ruim e desde pequena sempre
detestei este tipo de “etiquetas” educacionais…a primeira vez que senti
hipocrisia na pele com olhar “adulto” foi quando o meu espelho da percepção foi
quebrado e comecei a distinguir sorrisos e olhares, na escola em Portugal, as
pessoas da minha turma eram capasses de sorrir porem por trás ferir, magoar,
descriminar….tão incompreendida, desencaixada, tive de engolir sentimentos de
revolta e indignação, ainda levar com repreensões parentais por causa dos meus
“descuidos com os meus porta lápis” dado que em uma semana “perdi” 5x os meus
porta lápis e já estavam fartos e o facto de andar sempre a parar no Modelo
para comprar canetas já cansava….e a realidade é que uma magoa foi aqui
plantada porque se as pessoas quiserem mesmo saber ou perceber o que se passava
só tinham de falar comigo, se eles perdessem 5 mim viam que o meu sorriso não
era um sorriso mas sim uma imitação, saberiam que eu sempre fui responsável com
as minhas coisas, porem ao contrario de tentar perceber limitaram-se a julgar e
a disparar balas de ultimatos para que situações destas não se repetissem como
se as mesmas estivessem dentro do meu controlo…..pedir maturidade e este grau
de responsabilidade exigente a alguém que simplesmente trocou de pais e foi
forçada a se encaixar em algo que simplesmente não sente conforto.
A hipocrisia do natal e do ano
novo e a alegria disfarçada de interesse afinal éramos emigrantes e como tal
recebemos o estatuto de ricalhaços, e eu estava perplexa com a quantidade de
pessoas a volta da messa de jantar, dado que ate lá só éramos 4 e a realidade é
que sempre o fomos dado que esses números não acrescentaram nada, número fúteis
de uma equação inexistente, da qual só se queria usufruir das qualidades do que
propriamente retribuir, afinal no momento em que a tua vida tem utilidade para
alguém, esse alguém se vai continuar a manter perto de ti, na biologia isto é
chamado de Parasitismo.
Sorrisos forçados por trás das
máscaras de repulsão…a medida que fui crescendo comecei a vê-las com mais
clareza, na realidade são poucas as pessoas que se dam com uma alma só pela
essência, a maior parte só procura os benefícios, quais são os benefícios se eu
começo a falar com X, Y e Z? Na realidade são atos de supervivência irracional
onde os fracos se juntam aos fortes e na realidade eu sempre fui habituada a
tomar conta de mim própria, os meus dias “não” sempre foram geridos por mim
própria dentro do meu isolamento, não dependendo de alguém para tratar das
minhas feridas e sempre carregando sozinha o peso do meu fardo. O meu caminho
sempre foi solitário, não dependi de ninguém, ninguém me deu a mão para
apaziguar os meus pés ou me ofereceu um mapa ou uma bússola…todo descobrimento
e toda cicatriz na minha alma e corpo foram tentativas minhas de encontrar o
caminho e certezas de que eu não fiquei parada num sítio a espera…sempre estive
em movimento e aprendo rápido com as minhas quedas e fazendo malabarismo na
gestão de sentimentos. Tentando encontrar na vida o verdadeiro sinal de
felicidade porem sabotando-me porque ser feliz é algo que sempre achei tão distante de mim e do qual ate bem pouco tempo eu achava que não merecia…porque
ser feliz é algo que sempre pareceu tão distante, porque os sonhos quando
sempre os imaginei e sempre os tive, foram diluídos e destruídos, ou
simplesmente depositei os mesmos nas pessoas erradas ou vibrei tanta
automutilação e tanta infelicidade que só trouce disso para o meu caminho.
A realidade é difícil para mim
ter pensamentos egoístas, o facto de ser egoísta o suficiente como para
meter-me a mim primeiro e não aos outros me causa repulsão, dado que eu sempre
tive de estar pronta, eu sempre tive de estar alegre, eu sempre tive de estar
disposta a ouvir mesmo que a minha vontade era descansar relaxar desligar
simplesmente dizer não, “não hoje não estou disposta a ouvir, não estou
disposta a falar, não estou disposta a gastar energias em outra pessoa a não
ser eu, hoje só quero ser eu comigo mesma só que o timing do destino se alinhou
com o processo de perda e o resultado disto é um trauma pesado de culpa e
agonia por não estar sempre predisposta e o facto de não reconhecer o meu
estatuto de filha (não de amiga, não de psicóloga) simplesmente filha, eleva ao
quadrado o resultado desta equação. A verdade é que sempre exigiram muito de
mim, mesmo quando por dentro eu só me queria desfazer em cinzas, assim como eu
própria me exigi em dobro sendo rude e má comigo própria. Acima de tudo eu mesma
não me perdoei ou não me compreendi acima de tudo eu mesma não fui empata
perante o meu ser…e que ser feliz, ter sonhos planificar, coisas, fazem parte
do caminho. Porem tanto sonho meu que foi partido e estilhaçado sem do nem
piedade que sempre preferi viver em um mundo cinzento do qual de vez em quando
vou adicionando alguma cor que propriamente dar de caras com esse
arrebentamento, a minha imaginação pode voar porem a personagem principal é
outra e não eu, desvalorizo as qualidades que me fazem ser a mulher que sou
hoje…na realidade a minha alma grita e o meu corpo sofre e adoece de tanto sapo
engolido. Porque os meus sentimentos sempre foram despreciados ou colocados
fora do foco, e a morte do meu pai foi um dos muitos exemplos que vivenciei ao
longo do caminho, foram mais as perguntas que me fizeram de “porque ele fez
isso?” “porque morreu?” “estava depressivo?” “houve traição?” “havia dividas?”
porque isto porque aquilo e na realidade a pergunta mais básica que é “como tu
estas?” essa pergunta mais básica que falhou tanto porque era mais importante
saber o motivo do que propriamente dar apoio a aquela criança que tinha perdido
um pai, porem o egoísmo do questionamento não foi poupado e muito menos
filtrado dando assas a imaginação das pessoas que não tem escrúpulos
suficientes como para não saber distinguir fatos e estatutos, mandando palpites
e questionamentos para alguém que sucumbiu a dor.
E eu sempre tratei das dores e
alegrias da forma que sempre fui ensinada, sozinha nas 4 paredes do meu quarto
a tentar assimilar e a entender a quantidade de informação adquirida em imagem
e dentro da maturidade adquirida tentar decifrar sentimentos e agir consoante
fatos…..
“Se estivermos reféns da nossa história, das nossas dores… vivemos uma vida condenada… e nem sabemos… somos marionetas da nossa mente, do nosso subconsciente! – Cebolinha Agosto 2023”
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